I - No jornal Público, como noutros escritos,
não faltam evocações dos malefícios da burocracia.
II - “Todo-o-Mundo” se queixa
dela. Será que a burocracia é assim tão má? “Ninguém” acredita nas sua
vantagens!
III - A má fama da burocracia é,
todos o sabemos, devida a lhe atribuirmos a culpa pelo tempo que gastamos a
resolver coisas simples. Sendo um «sistema administrativo baseado na
organização em serviços e na divisão de tarefas, que privilegia as funções
hierárquicas de maneira a dispor de uma grande quantidade de trabalho de uma
forma rotineira» (Dicionário
da Língua Portuguesa, Porto Editora), a maldita burocracia serve, para
muitos, de desculpa para não fazer o que deve ser feito.
IV - Contudo, é sabido que não
há fármacos venenosos – tudo depende das doses!
V - Erasmo de Roterdão escreveu um
livro sarcástico designado “Elogio da Loucura” (Guimarães Ed., tradução de Álvaro
Ribeiro,1951). Este despretensioso texto não procura imitar o seu estilo nem os
objetivos…
VI – Pretende-se, antes, chamar
a atenção para algo a que alguns chamam “burocracia” mas que é, afinal, um “dever”.
VII - O dever de documentação,
nomeadamente no atendimento dos serviços de saúde, é tão importante que precisa,
constantemente, de ser recordado aos profissionais, na medida em que serve os
interesses tanto dos profissionais como os dos destinatários do seu labor.
VIII - Dizem alguns médicos e
alguns enfermeiros que o tempo consumido a registar os procedimentos e atos
realizados mais útil seria se fosse destinado a mais procedimentos e atos próprios
das respetivas profissões.
IX - Como é fácil de perceber, a
ausência de registos seria tão prejudicial aos doentes (conduzindo a repetições
dispendiosas de exames e consultas, atrasando decisões e diagnósticos), como
aos profissionais (impossibilitando demonstrar ter havido boas práticas, dificultando
sinergias entre áreas e serviços complementares).
X - Quando ouvimos queixas de
excesso de burocracia, tememos estar perante profissionais que preferem agir sem
assumirem responsabilidades (não "se atravessam", não equacionam os fundamentos
das suas ações).
XI - A burocracia e os atos burocráticos associados aos atos próprios das profissões de saúde são maléficos quando são em demasia, certamente. Os programas informáticos, sobretudo se melhorados pela “inteligência artificial”, hão de permitir que os profissionais tenham mais tempo para “aquilo que interessa”, mas, por mais eficientes que sejam, nunca deixarão de nos “obrigar” a dedicar algum do nosso tempo a tarefas “burocráticas”, usando a inteligência natural, usando a validação humana.
Observações pertinentes
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