28 julho 2024

Prontidão ética em medicina genómica

Journal of Medical Ethics 2024;50:517-522.

Prontidão ética em medicina genómica:
como os cientistas clínicos do SNS lidam com as questões éticas
Kate Sahan, Kate Lyle, Helena Carley, Nina Hallowell, Michael J Parker, Anneke M Lucassen
Ethox Centre, University of Oxford, Nuffield Department of Population Health, Oxford, UK

Tradução espontânea do resumo e conclusões do artigo publicado em 23.07.2024
Ethical preparedness in genomic medicine: how NHS clinical scientists navigate ethical issues

Resumo

Muito tem sido publicado sobre as questões éticas enfrentadas pelos clínicos em genética/genómica, mas as questões vividas pelos cientistas de laboratórios estão menos bem descritas. Atualmente, os cientistas laboratoriais enfrentam frequentemente problemas éticos no seu trabalho, mas a forma como devem ser apoiados para o fazer está pouco explorada. Esta falta de atenção também se reflete nos instrumentos de ética disponíveis para os cientistas laboratoriais, designadamente nas orientações e fóruns de ética deliberativos, desenvolvidos principalmente para gerir questões que surgem na clínica.

Estudámos quais as questões éticas que estão a ser sentidas pelos cientistas, como pensam que essas questões podem ser mais bem analisadas e geridas e se a sua prática pode ser aperfeiçoada por abordagens mais específicas relativas à deliberação e prática éticas, como a prontidão ética. A partir da análise temática de casos apresentados por cientistas numa reunião especialmente convocada para o Genethics Forum do Reino Unido, deduzimos três temas éticos principais: (1) a redistribuição do trabalho e das responsabilidades resultantes da prática da medicina genómica; (2) a interpretação e a certeza dos resultados e (3) a proposta de que uma melhor normalização e consistência das abordagens éticas (por exemplo, mais diretrizes e mais políticas) poderiam resolver alguns dos desafios que surgem.
Defendemos que, embora a normalização seja importante para promover entendimentos partilhados de boas práticas (incluindo éticas), as abordagens suplementares para melhorar e manter a prontidão ética serão importantes para ajudar os cientistas clínicos e outros, no contexto recentemente alargado da medicina genética/genómica, a promoverem um pensamento ético de qualidade.

[…]

Conclusão

A medicina genética/genómica continua a apresentar questões éticas complexas em todas as áreas de prestação de serviços. Destacámos uma área – o laboratório de ciências clínicas – que está atualmente a enfrentar problemas de complexidade crescente. Ao explorar as experiências dos cientistas clínicos que apresentam casos ao Genethics Forum do Reino Unido, revelámos três preocupações principais e prementes. Em primeiro lugar, o facto de os cientistas se sentirem parcialmente responsáveis pela forma como os doentes receberão os resultados e como deverão ser acompanhados no futuro. Em segundo lugar, o facto de os testes que utilizam painéis de maior dimensão poderem fazer com que os cientistas (ou outras pessoas) que abastecem o Genomic Medicine Services se sintam obrigados a transformar prematuramente os dados em resultados clinicamente significativos, a fim de “dar uma resposta” aos doentes. Em terceiro lugar, o facto de a coerência, quando abordam apresentações clínicas semelhantes, ser importante para tratar os doentes de forma equitativa, mas não ser uma solução completa para gerir a gama de questões éticas que se põem. Nesse sentido, os recursos para promover a normalização (por exemplo, com mais orientações e mais políticas) representam apenas uma parte da solução para a questão da gestão e do apoio aos cientistas na sua prática ética.
Além de tais recursos, recomendamos uma intervenção fundamental e de maior alcance da prontidão ética. Esta abordagem situada da deliberação ética utiliza o contexto e a diversidade do contexto da prática para informar o pensamento ético de qualidade e adequa-se à natureza em expansão e em rápida transformação do fornecimento da medicina genómica. A prontidão ética pode ser combinada com as ferramentas de ética existentes, tais como orientações e padrões profissionais, para manter um pensamento ético de qualidade, e é também consistente com oportunidades mais formais de deliberação ética, tais como o Genethics Forum do Reino Unido.
A concretização da prontidão ética envolve dar prioridade a discussões e deliberações éticas de qualidade na equipa multidisciplinar, para que se tornem parte da prática regular em genética/genómica (e noutras especialidades no futuro). Na prática, isto pode implicar a otimização dos contextos para as discussões locais sobre ética, proporcionando acesso a comissões de ética clínica e a recursos formais estruturados, como o Genethics Forum do Reino Unido e recursos de genética em linha. No entanto, estes recursos também devem ter como objetivo – como parte da sua missão – capacitar melhor os profissionais de saúde para reconhecerem e valorizarem as suas próprias capacidades na gestão de questões éticas ao longo do tempo.

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