25 abril 2024

Onde estava eu há 50 anos


Em abril de 1974 estava em Angola, em Nova Gaia – uma povoação “perto” de Malanje, na estrada para Henrique de Carvalho (agora Saurimo). Era alferes miliciano médico, tinha passado o ano de 1973 nos Dembos (incluindo Nambuangongo) e estava a desfrutar do “benefício” de ter a segunda parte da comissão em zona de paz relativa.

Cumprir o serviço militar obrigatório tinha sido uma decisão difícil. Alguns amigos tinham decidido emigrar. Eu namorara 6 anos e casara no fim do curso em 1970 – o  primeiro filho nasceu em 1971 – e não fui capaz de optar pelas incertezas de uma vida no estrangeiro. Prestar serviços médicos, sem usar armas, serviu-me de atenuante para ir à guerra!

Ultrapassados os riscos do primeiro ano pela proximidade dos combates, o segundo ano permitiu que mulher e filho viessem para o meu convívio. Nova Gaia era uma rua com não mais de 10 casas. Um pequeníssimo hospital com 6 camas e a casa do médico ficavam numa extremidade – na outra estava o quartel feito de barracas em madeira. Em casa, recebíamos os alferes e o capitão para conversas sobre tudo… e mais alguma coisa. Tínhamos um pequeno rádio.

Só no dia 26 de abril nos chegaram rumores de que tinha havido m**** em Lisboa, na opinião do administrador do concelho. Com os nossos ouvidos colados à rádio, só no dia seguinte começamos a perceber que o movimento militar tinha por intenção acabar com o regime, acabar com a guerra e estabelecer a democracia.

50 anos depois, a alegria desses dias nunca se apagou!

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