Em abril de 1974 estava em Angola, em Nova Gaia – uma
povoação “perto” de Malanje, na estrada
para Henrique de Carvalho (agora Saurimo). Era alferes miliciano médico, tinha
passado o ano de 1973 nos Dembos (incluindo Nambuangongo) e estava a desfrutar
do “benefício” de ter a segunda parte da comissão em zona de paz relativa.
Cumprir o serviço militar obrigatório tinha sido uma decisão
difícil. Alguns amigos tinham decidido emigrar. Eu namorara 6 anos e casara no
fim do curso em 1970 – o primeiro filho
nasceu em 1971 – e não fui capaz de optar pelas incertezas de uma vida no
estrangeiro. Prestar serviços médicos, sem usar armas, serviu-me de atenuante
para ir à guerra!
Ultrapassados os riscos do primeiro ano pela proximidade dos
combates, o segundo ano permitiu que mulher e filho viessem para o meu
convívio. Nova Gaia era uma rua com não mais de 10 casas. Um pequeníssimo
hospital com 6 camas e a casa do médico ficavam numa extremidade – na outra
estava o quartel feito de barracas em madeira. Em casa, recebíamos os alferes e
o capitão para conversas sobre tudo… e mais alguma coisa. Tínhamos um pequeno
rádio.
Só no dia 26 de abril nos chegaram rumores de que tinha
havido m**** em Lisboa, na opinião do administrador do concelho. Com os nossos
ouvidos colados à rádio, só no dia seguinte começamos a perceber que o
movimento militar tinha por intenção acabar com o regime, acabar com a guerra e
estabelecer a democracia.
50 anos depois, a alegria desses dias nunca se apagou!
Sem comentários:
Enviar um comentário