Acabei de fazer um exame de imagiologia num hospital que frequento. Tive de esperar numa cadeira de rodas cerca de 15 minutos enquanto outros doentes entravam para fazer os seus próprios exames. Enquanto esperava, reparei numa coisa notável: cerca de 20 pessoas passaram por mim durante esse tempo e todos, quase sem exceção, sorriram e cumprimentaram-me. Tanto quanto me foi dado ver, isto incluía radiologistas e médicos, porteiros e enfermeiros, bem como empregados de limpeza e outros funcionários.
A experiência pareceu-me extraordinária. Já esperei muitas vezes em circunstâncias
semelhantes e tive geralmente a sensação de ser considerado invisível ou
inanimado. Pareceu-me sempre que vestir uma bata de hospital e estar deitado na
horizontal me rebaixava de um membro digno da raça humana para um objeto sem
direito a ser notado, quanto mais cumprimentado.
Suspeito que havia algo de
excecional na cultura do serviço onde me encontrava agora. Talvez tenha sido o
resultado de uma formação, de bons exemplos, ou simplesmente de um ambiente
feliz onde as pessoas eram bem tratadas e a gentileza se tinha tornado a norma.
Mesmo assim, isso fez uma diferença fenomenal no meu moral e na minha sensação
de bem-estar, bem como na minha satisfação enquanto doente.
Fez-me pensar na famosa
campanha liderada pela jovem geriatra Kate Granger, que tinha um cancro
incurável e infelizmente morreu em 2016.1,2 Durante um dos seus
internamentos no hospital, reparou que muitos dos funcionários que cuidavam
dela não se apresentavam. Achando terrivelmente errado que faltasse esse passo
tão básico na comunicação, dedicou os últimos anos da sua vida a fazer campanha
nas redes sociais e, mais ainda, a pedir que todos os profissionais de saúde
dissessem o seu nome sempre que se encontrassem com um doente pela primeira
vez. O lema #oláomeunomeé [hashtag #hellomynameis] começou a aparecer
nos crachás de identificação. Os diretores dos hospitais começaram a inculcar
este hábito como parte das boas práticas. Como resultado da campanha de Kate, é
agora muito menos comum no Reino Unido encontrar funcionários que não dizem o
seu nome ou que, pelo menos, o têm claramente legível no seu crachá.
Com base neste precedente,
pergunto-me se não deveríamos iniciar uma campanha utilizando o lema #dizeroláaosdoentes
[hashtag #sayhellotopatients]. Não seria preciso muito esforço para que
cada pessoa no SNS cultivasse uma rotina de olhar diretamente para cada doente
que passasse e, pelo menos, acenar educadamente com a cabeça para reconhecer a
sua existência, se não mesmo dizer olá em todos os casos. Mesmo quando
atravessa uma sala de espera cheia de doentes, deve ser perfeitamente possível
estabelecer contacto visual com um número suficiente de pessoas para lhe
mostrar que reconhece que são seres vivos e que respiram, em vez de peças de
mobiliário. O pessoal dos hotéis é treinado para fazer isto como
uma rotina.
Penso que agir desta forma natural e humana seria também extremamente benéfico para o pessoal e para o moral da equipa. Os efeitos nos doentes, a julgar pela minha própria experiência, seriam profundos. Vamos todos #dizeroláaosdoentes.
Referências
1. hellomynameis.
- 2. Granger K