05 abril 2024

Objeção de consciência institucional

 

Será que se justifica a "objeção de consciência institucional" ao aborto e à eutanásia?
Michael Cook

Tradução espontânea do texto

A objeção de consciência institucional pode parecer uma questão bioética obscura, mas estará no centro de debates políticos acalorados nos próximos anos. À medida que cada vez mais ordenamentos jurídicos legalizam procedimentos como o aborto e a eutanásia, alguns hospitais e clínicas, na sua maioria católicos, recusar-se-ão a fornecer serviços. Os governos tentarão forçá-los a participar – e haverá muito barulho. Isto já está a acontecer em pequena escala no Canadá e na Austrália.

A ideia de que uma instituição possa ter uma consciência é rotundamente negada por muitos bioeticistas. A capacidade de distinguir entre o certo e o errado é uma propriedade dos indivíduos e não das instituições, segundo eles. Por isso, os hospitais que se recusam a fazer, por exemplo, abortos, devem ser obrigados a fazê-lo e os médicos que se recusam a participar devem ser despedidos. Afinal de contas, o aborto é legal e socialmente aceite.

Até agora, os argumentos a favor e contra a objeção de consciência institucional têm sido relativamente pouco sofisticados. Um lado diz: "façam o que eu digo ou então"; o outro lado responde: "temos direito às nossas crenças consagradas pelo tempo". Estes argumentos são sensíveis ao exercício do mero poder político.

No entanto, os bioeticistas estão a começar a examinar esta questão com mais cuidado. No Journal of Medicine & Philosophy, dois australianos, Xavier Symons e Reginald Chua, defendem o direito à objeção de consciência institucional, analisando mais cuidadosamente os termos do debate. (Declaração de interesses: Symons é um antigo editor-adjunto da BioEdge, que trabalha atualmente em Harvard). Eles destrinçam três argumentos bem conhecidos contra a objeção de consciência institucional:

·         - As pessoas têm consciência; as instituições não têm consciência.

·         - As instituições que recebem financiamento público devem prestar serviços legalmente autorizados.

·         - As instituições não devem negar serviços legais a pessoas em situação de necessidade premente, especialmente quando não têm mais nenhum sítio a onde ir.

Symons e Chua defendem que estas objeções não têm em conta a metafísica das instituições. Embora as instituições não sejam pessoas individuais, falamos frequentemente delas como se tivessem responsabilidade moral. Por exemplo, Israel não deveria bombardear Gaza ou o Irão não deveria financiar o Hamas. Isto não é um golpe de misericórdia para os opositores da objeção de consciência institucional, mas deve fazer-nos pensar. Trata-se de uma abordagem que é apoiada por investigação filosófica recente.

As suas críticas ao argumento do financiamento público recorrem a outra distinção simples:

As instituições católicas não são financiadas pelos governos com a expectativa implícita de que vão praticar o aborto ou a eutanásia. São financiadas com a expectativa de que atuem de acordo com os seus valores fundamentais. Os hospitais católicos estão a honrar as expectativas que o Estado tem em relação a eles, agindo de acordo com os seus valores básicos e não praticando a interrupção voluntária da gravidez e a ajuda à morte.

Obrigar estas instituições a prestar serviços "imorais" causa-lhes danos morais.

Por fim, distinguem no argumento sobre a recusa de serviços essenciais um forte traço de consequencialismo: "que a vida e a saúde das mulheres é mais importante do que respeitar a missão e os valores de uma instituição". Porém, esta é uma questão com discordâncias razoáveis, senão mesmo veementes.

Os autores referem que o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem decidiu, em 2012, que "os Estados são obrigados a organizar o seu sistema de serviços de saúde ... de modo a garantir que o exercício efetivo da liberdade de consciência pelos profissionais de saúde ... não impeça os doentes de obterem acesso aos serviços a que têm direito".

Sem demolir os argumentos contra a objeção de consciência institucional, defendem que é necessário muito mais profundidade, subtileza e tolerância num conflito que certamente se tornará mais intenso nos próximos anos.