13 março 2024

Ajuda médica para morrer quando a morte natural não é razoavelmente previsível

Can Fam Physician 2023;69:853-8. 

Ajuda médica para morrer (AMM) quando a morte natural não é razoavelmente previsível 
Inquérito sobre as experiências dos prestadores com os doentes que fazem pedidos de tipo 2

Ellen Wiebe e Michaela Kelly *

 Resumo

Objetivo - Descrever como fazem os médicos a avaliação dos doentes que submetem pedidos de tipo 2 de ajuda médica para morrer (AMM) e como prestam a AMM a esses doentes nos primeiros 6 meses após o Canadá ter alterado, em março de 2021, a legislação pertinente no sentido de alargar o acesso à AMM.

Formato - Inquérito online com perguntas fechadas e abertas sobre a vivência dos médicos com pessoas perante doentes que fazem pedidos de AMM de tipo 2.

Contexto - Canada.

Participantes - Médicos e enfermeiros membros da Canadian Association of MAID Assessors and Providers.

Principais resultados medidos - As razões mais comuns que os doentes deram para submeter pedidos de AMM de tipo 2 e as dificuldades que os prestadores identificaram ao fazer estas avaliações.

Resultados - Vinte e três prestadores de AMM enviaram informações sobre 54 doentes que ti­nham feito pedidos entre 17 de março de 2021 e 17 de setembro de 2021. Os diagnósticos mais comuns foram síndromes de dor crónica, que afetaram 28 doentes (51,9%), e doenças crónicas complexas, como a encefalomielite miálgica (EM) ou a síndrome de fadiga crónica (SFC), que afetaram 8 doentes (14,8%). As dificuldades mais comuns relatadas pelos prestadores de cuidados estavam relacionadas com o facto de os doentes terem doenças mentais concomitantes, o que se verificou em 37 avaliações (68,5%). Em 8 casos (14,8%), os prestadores de cuidados de saúde enfrentaram dificuldade em encontrar especialistas para ajudar nas avaliações. Em 19 casos (35,2%), os prestadores consideraram que não tinham sido oferecidos aos doentes todos os tra­tamentos adequados e disponíveis e, em 9 casos (16,7%), os prestadores tiveram dificuldade em encontrar esses tratamentos para os doentes.

Conclusão - Os prestadores de AMM descreveram muitas dificuldades na sua vivência com doentes que fazem pedidos de tipo 2, incluindo a avaliação de indivíduos com doenças mentais concomitantes, a incerteza de que os doentes tinham recebido tratamentos adequados antes de procurarem a AMM e a incerteza de que os doentes tinham considerado seriamente os tratamen­tos disponíveis. Muitos prestadores sentiram-se moralmente angustiados ao tentarem equilibrar os direitos dos doentes com o que poderia ser do interesse superior dos mesmos. Isto é diferente da experiência que os prestadores têm tido com doentes que fazem pedidos de tipo 1, uma vez que a maioria destes doentes tem uma doença maligna em fase terminal ou falência de órgãos e raramente tem necessidades de cuidados de saúde não satisfeitas. Esta informação pode ser utili­zada para melhorar a formação e o apoio aos médicos, uma vez que estes ajudam os doentes com pedidos de tipo 2 a acederem ao seu direito a uma morte tranquila.

Os canadianos de todo o país têm o direito à morte ajudada desde que a lei da ajuda médica para morrer (AMM) entrou em vigor a 17 de junho de 2016.1 Inicialmente, isto significava que um médico ou enfer­meiro podia prescrever ou administrar uma substância letal para pôr termo à vida de uma pessoa que solicitasse AMM e que preenchesse determinados critérios, incluindo o de ter uma doença grave e incu­rável que causasse um sofrimento insuportável, de ter capacidade para dar o seu consentimento e de a sua morte natural ser razoavelmente previsível.1 Após 5 anos e mais de 21 000 mortes ajudadas no Ca­nadá, a lei foi alterada em 17 de março de 2021, de modo a permitir que as pessoas que não tivessem uma morte natural razoavelmente previsível pudessem agora ser elegíveis para a AMM (através dos chamados pedidos de tipo 2).1,2

Esta alteração foi uma resposta a um recurso interposto no Tribunal Constitucional em que duas pessoas com deficiências argumentaram que deviam ter direito à AMM. O tribunal decidiu que o critério da morte natural razoavelmente previsível viola a secção 7 da Carta Canadiana dos Direitos e Liberdades, que protege contra as privações de vida, liberdade e segurança da pessoa, e a secção 15 da Carta, que garante o direito a igual proteção e igual benefício da lei sem discriminação.3 Esta lei alterada prorrogou tempo­rariamente a exclusão de pessoas cujas únicas condições subjacentes se enquadram no âmbito de doença mental até 17 de março de 2024, para dar tempo às províncias e territórios a prepararem-se para esses casos e dar tempo ao desenvolvimento de novos meios essenciais para avaliadores e prestadores.1 As salvaguardas para os indivíduos elegíveis para AMM através de pedidos de tipo 2 incluem a existência de um período de avaliação de 90 dias, a pessoa ter "seriamente" ponderado o recurso a meios razoáveis para alívio do seu sofrimento e os avaliadores terem conhecimentos especializados na doença que está a causar o sofrimento ou consultarem alguém com esses conhecimentos.4

Esta é uma questão importante para os médicos de família, dado que 68,1% dos casos de AMM no Canadá, em 2020, foram administrados por médicos de família e que os doentes com doenças crónicas constituem uma grande parte dos casos de medicina familiar.2 A prestação de AMM especificamente para pessoas com doenças crónicas é uma nova área da prática médica, e os avaliadores e prestadores de cuidados precisam de saber como prestar os melhores cuidados possíveis aos doentes. A 17 de setembro de 2021, os médicos canadianos tinham 6 meses de experiência com a lei recentemente alterada, pelo que nos propusemos compreender quais as dificuldades que os prestadores tinham enfrentado. A Canadian Association of MAID Assessors and Providers (CAMAP) é uma organização nacional de médicos e enfermei­ros que prestam serviços de morte ajudada. O objetivo deste estudo foi obter informações que permitam uma melhor formação dos membros da CAMAP e poder aconselhar melhor os decisores políticos sobre este assunto. Recolhemos informações dos prestadores de cuidados membros da CAMAP sobre a sua experiência com doentes que fizeram pedidos de tipo 2 nos primeiros 6 meses após a aprovação da legislação alterada.

Métodos

Enviámos e-mails aos membros da CAMAP em outubro de 2021 e pedimos-lhes que utilizassem um formulário online para enviar informações sobre as suas vivências com doentes que fizeram pedidos de AMM de tipo 2 entre 17 de março de 2021 e 17 de setembro de 2021. Estes e-mails foram enviados pelo administrador da CAMAP e repetidos duas vezes. Optámos por recrutar apenas através da CAMAP porque sabíamos, com base em trabalhos anteriores, que os membros incluem prestadores que lidam com a maioria dos casos de AMM.5-7 Além disso, todos os membros da CAMAP foram credenciados, pelo que podíamos ter a certeza de que eram prestadores canadianos de AMM.

Foram criados identificadores únicos para cada caso de doente, que os prestadores introduziram no for­mulário, e pedimos aos prestadores que excluíssem os casos em que fizeram uma avaliação mas espera­vam que outra pessoa fosse o prestador dos cuidados. O objetivo foi evitar duplicações, uma vez que não dispúnhamos de outros identificadores para as avaliações. Os casos não podiam ser associados a presta­dores ou locais específicos.

Também recolhemos informações demográficas sobre os médicos separadas das informações sobre os seus doentes, para que os doentes e os médicos não estivessem ligados na base de dados. Estas informa­ções incluíam a província em que exercem a sua atividade, a sua experiência em AMM e o facto de serem médicos ou enfermeiros (Anexo 1, disponível em CFPlus). Os dados recolhidos sobre os doentes in­cluíam a categoria de idade e os diagnósticos, mas a maioria das perguntas era sobre as dificuldades que os prestadores de cuidados enfrentavam na prestação de cuidados a estes doentes (Anexo 2, disponível em CFPlus).

Os dados dos formulários foram exportados para um ficheiro de dados (SPSS, versão 27) para análise. Foram efetuadas análises descritivas dos dados quantitativos para determinar as principais dificuldades enfrentadas pelos prestadores na avaliação dos doentes com pedidos de tipo 2 e na prestação de AMM a que se qualificavam. Ambos os autores leram todos os comentários e escolheram os que captavam melhores informações para incluir neste relatório.

Resultados

Vinte e três prestadores de AMM enviaram informações sobre avaliações de 54 doentes de tipo 2 (in­cluindo 21 doentes que receberam AMM) durante o período de 6 meses. Estes prestadores incluíam 2 enfermeiros e 21 médicos que exerciam a sua atividade em 6 províncias e 1 território canadianos. Eram, na sua maioria, prestadores experientes que tinham avaliado um total de 112 doentes com pedidos de tipo 2 e tinham dado AMM a 33 desses doentes. Dos 23 participantes, 8 já tinham proporcionado AMM a mais de 100 doentes (ao abrigo da elegibilidade de tipo e 1 e 2) desde 2016.

Dos 54 doentes avaliados, 8 (14,8%) tinham menos de 30 anos, 22 (40,7%) tinham entre 30 e 59 anos, 21 (38,9%) tinham entre 60 e 79 anos e 3 (5,6%) tinham 80 anos ou mais. Quinze (27,8%) identificaram-se como homens, 35 (64,8%) como mulheres e 4 (7,4%) como mulheres trans. Os diagnósticos mais comuns foram as síndromes de dor crónica, que afetaram 28 doentes (51,9%), incluindo fibromialgia, síndrome de sensibilização central e dor neuropática crónica. A encefalomielite miálgica (EM), também designada por síndrome de fadiga crónica (SFC), ocorreu em 8 doentes (14,8%). Outros diagnósticos neurológicos incluíram traumatismo cranioencefálico, doença de Parkinson e esclerose múltipla; 1 pessoa tinha tetraplegia. Muitos tinham vários diagnósticos.

Os prestadores referiram que os sintomas como a dor (47 doentes, 87,0%) e a perda da capacidade de fazer coisas aprazíveis ou significativas (47 doentes, 87,0%) foram as razões mais comuns que os doentes deram para solicitar AMM (Tabela 1).

As dificuldades mais comuns relatadas pelos prestadores estavam relacionados com doenças mentais concomitantes em 37 doentes (68,5%); destes, 14 (25,9%) também enfrentaram dificuldades na avaliação da capacidade (Tabela 2). Os comentários dos prestadores incluíram o seguinte:

Inicialmente, as alucinações somáticas estavam a afetar a capacidade, mas melhoraram com uma mudança de antipsicótico [medicação].

Perturbações da personalidade muito presentes e que tornam difíceis as interações com os doen­tes.

Aparentemente, a ansiedade estava na origem de muitas razões para recusar intervenções que poderiam ter sido úteis, pelo que a capacidade de recusar essas intervenções estava em causa para mim.

Preocupava-me com a sua depressão.

Na altura em que a avaliei, a sua doença mental estava sob excelente controlo e não contribuía para o seu pedido de AMM. Isto tinha sido um problema com um avaliador anterior que tinha recusado a elegibilidade com base na falta de capacidade devido, em parte, ao sofrimento mental.

Os prestadores acreditavam que não tinham sido oferecidos a 19 doentes (35,2%) todos os tratamentos adequados e disponíveis para as suas doenças antes de apresentarem os pedidos de AMM, e os prestado­res tiveram dificuldade em encontrar esses tratamentos para 9 doentes (16,7%):

Durante a COVID, muitos serviços e tratamentos não estavam disponíveis ou os períodos de espera eram muito longos.

A sua principal sintomatologia relacionada com [o seu pedido de AMM] era a dor. A clínica ou o especialista em dor crónica mais próximo fica a 1,5 horas de distância e a doente não conduzia.

Para 18 doentes (33,3%), os prestadores indicaram que a vulnerabilidade dos doentes e os determinantes sociais da saúde constituíam desafios:

Esta doente tinha vários problemas sociais que a tornavam vulnerável. A sua saúde poderia ter sido muito melhor se tivesse um lugar para viver que fosse acessível [e] seguro e tivesse instalações para cozinhar. Além disso, não tinha uma alimentação adequada.

Ele é indígena e eu receava que a sua experiência de racismo sistémico tivesse interferido com a sua capacidade de aceitar tratamentos.

A doente estava a sentir-se isolada devido à COVID e à perda do marido; dificuldade inicial em discernir se [a doente] estava a lidar com a perda [ou] com o luto versus o desejo informado de AMM devido à dor.

Em 12 doentes (22,2%), os prestadores tiveram dificuldade em avaliar se os doentes tinham "considerado seriamente" os tratamentos adequados:4

Já tinha a certeza de que queria a AMM, pelo que não estava disposta a considerar outras opções (novos medicamentos, infusões, terapia, etc.). Não estava recetiva ao aconselhamento. Foi inflex­ível e disse que a única coisa que consideraria seria a AMM.

Em 8 doentes (14,8%), os prestadores descreveram dificuldade em encontrar alguém com conhecimentos especializados para ajudar na avaliação:

Eu precisava de um psiquiatra, mas isso significava que o doente tinha de se deslocar [para receber esses cuidados].

Havia apenas um [especialista] na [cidade] e não o quiseram consultar.

O especialista não respondeu a muitos pedidos de contacto.

Três dos 54 doentes (5,6%) foram considerados inelegíveis para a AMM e não foram concluídas as ava­liações de 5 doentes. As razões pelas quais os doentes foram considerados inelegíveis para a AMM in­cluíram a falta de capacidade, não terem uma "condição grave e incurável" e não estarem num estado avançado de declínio de capacidade.4

Oito prestadores apresentaram comentários gerais sobre a sua experiência e algumas sugestões:

Estes [casos de doentes] são extremamente complicados. Os seus casos devem ser analisados por uma equipa multidisciplinar para saber atempadamente se são ou não elegíveis para o pedido de tipo 2. A equipa precisa de um gabinete dedicado, pessoal administrativo de apoio, um assistente social competente e diligente, [e] médicos e enfermeiros dedicados.

Muitos doentes jovens, muitos deles com doenças mentais graves concomitantes; a doença física funciona como uma "porta de entrada" ao abrigo da legislação atual para permitir a AMM quando a doença mental é o verdadeiro motivo do pedido.

O tempo associado à avaliação destes doentes é enorme.

É um pesadelo suficientemente desafiante que torna improvável a minha participação em muitos mais [casos], se é que haverá algum.

Não foram pedidos comentários positivos aos prestadores, mas um prestador disse que "lhe agradava poder ajudar [o doente]". Embora não tenha sido perguntado aos prestadores se estavam dispostos a continuar a fazer avaliações e a facultar a AMM aos doentes que fazem pedidos de tipo 2, dois disseram que não estavam.

Discussão

Os inquiridos deram informações sobre a sua experiência com 54 doentes que fizeram pedidos de tipo 2 nos primeiros 6 meses após a aprovação da lei alterada. Os diagnósticos mais comuns dos doentes foram síndromes de dor crónica. As dificuldades que os prestadores referiram com mais frequência foram a avaliação de doentes com doenças mentais concomitantes, aos quais ainda não tinha sido oferecido tratamento adequado ou para os quais os determinantes sociais da saúde tinham influenciado os seus pedidos de AMM.

Os requerentes da decisão judicial que levou à alteração da lei foram Jean Truchon, que sofria de paralisia cerebral espástica com triplegia desde o nascimento, e Nicole Gladu, que vivia há décadas com uma deficiência causada por poliomielite.8 Na nossa amostra de 54 avaliações de doentes, havia apenas 1 pes­soa com uma deficiência física de longa duração causada por tetraplegia. A maioria dos doentes tinha síndromes de dor crónica ou uma doença crónica complexa (EM ou SFC). Muitos tinham múltiplos diagnósticos, incluindo doenças mentais concomitantes. Este facto contribuiu para as dificuldades que os prestadores enfrentaram e para a quantidade de tempo necessário para realizar estas avaliações. Muitos inquiridos indicaram que não estavam preparados para a quantidade de tempo que cada caso implicava.

Os médicos de família veem frequentemente doentes com dor crónica e a prevalência de dor crónica clinicamente significativa é de aproximadamente 23% em todo o mundo.9,10 A transição da dor aguda para a dor crónica envolve alterações fisiopatológicas distintas no sistema nervoso periférico e central.11 A fadiga crónica é observada na EM ou SFC e em muitas síndromes pós-infeciosas, como a doença de Lyme crónica e a síndrome COVID longa, com uma prevalência de EM ou SFC estimada em cerca de 1,4% da população canadiana.12-14 Estas síndromes de dor e fadiga são difíceis de tratar e as clínicas mul­tidisciplinares especializadas não são facilmente acessíveis devido aos custos e às longas listas de espera. Este facto aumenta o dilema que os avaliadores e prestadores de AMM enfrentam ao avaliar se um doente considerou seriamente tratamentos razoáveis para aliviar o seu sofrimento. Além disso, não temos a cer­teza de como os pedidos de AMM destes doentes afetaram os seus médicos de família habituais, uma vez que não os incluímos especificamente neste estudo.

Na decisão Truchon vs. Canadá, a Juíza Christine Baudouin escreveu que o Tribunal considera que, para um médico que trabalhe na área da ajuda médica para morrer, uma pessoa vulnerável deve ser definida como uma pessoa incapaz de dar o seu consentimento, que depende de outros para tomar decisões sobre os seus cuidados ou que pode ser vítima de pressão ou abuso.15

Para 33,3% dos doentes do nosso estudo, os prestadores consideraram a avaliação da vulnerabilidade um desafio, mas discutiram a vulnerabilidade em termos de desvantagem social (por exemplo, habitação pre­cária, falta de transportes, dificuldades financeiras), racismo sistémico e solidão – não em termos de pres­são ou abuso. Assim, os conceitos de vulnerabilidade variam e precisam de ser mais bem definidos.

Muitos comentários dos prestadores sugeriram que, por vezes, se esforçavam por ter a certeza de que tinham sido oferecidos aos doentes os melhores tratamentos, que qualquer rejeição do tratamento era racional e não estava relacionada com a doença mental concomitante e que as doenças eram verdadeira­mente "incuráveis". Esta luta pode ser interpretada através de um enquadramento ético, uma vez que os prestadores estavam a equilibrar o respeito pela autonomia com o facto de não causarem danos no con­texto dos determinantes sociais da saúde, da vulnerabilidade dos doentes e da indisponibilidade de deter­minados tratamentos.

Este facto contrasta com a experiência de avaliadores e prestadores de AMM relatadas em estudos ante­riores envolvendo doentes com pedidos de AMM de tipo 1, em que encontrar este equilíbrio pareceu menos complexo e causou menos angústia aos prestadores.7,16 Os decisores políticos devem estar cientes de que os avaliadores e prestadores de AMM necessitarão de apoio para lidar com a complexidade dos pedidos de tipo 2. Isto exigirá centros de coordenação da AMM bem financiados, com acesso a assistentes sociais, psiquiatras e outros especialistas. Os médicos de família que não são prestadores de AMM tam­bém podem enfrentar desafios semelhantes ao tentarem garantir que os doentes que fazem pedidos de tipo 2 tenham tido acesso a tratamentos adequados.

Limitações

A amostra do nosso estudo foi limitada a apenas 23 prestadores que deram informações sobre 54 doentes que efetuaram pedidos de tipo 2 nos primeiros 6 meses após a alteração da lei da AMM. Recolhemos dados apenas a partir de breves inquéritos online e recrutámos membros da CAMAP. Concentrámo-nos nas dificuldades que os prestadores enfrentaram e não perguntámos especificamente sobre os aspetos positivos desta alteração legal, uma vez que o nosso objetivo era conhecer o desenvolvimento dos ade­quados treino e apoios. A investigação futura deve recorrer a entrevistas para obter informações mais aprofundadas e deve explorar as vivências para além dos primeiros 6 meses. Será importante perguntar sobre os aspetos positivos, bem como sobre a forma como outros aspetos da lei alterada, como o período de espera de 90 dias, alteraram as práticas. A investigação futura deve também explorar as perspetivas dos médicos de família que não são avaliadores ou prestadores de AMM para compreender a sua ex­periência com pessoas com doenças crónicas que solicitam AMM.

Conclusão

Este relatório dos primeiros casos com a ajuda médica para morrer em pessoas cuja morte natural não era razoavelmente previsível proporciona uma visão dos temas em que o ensino e o apoio adicionais poderiam beneficiar os avaliadores. As dificuldades que enfrentaram incluíram lidar com doenças mentais concomitantes e ter dificuldade em certificar-se de que os doentes tinham recebido os melhores trata­mentos e tinham considerado seriamente os tratamentos disponíveis. No entanto, os inquiridos esforça­ram-se por equilibrar os imperativos éticos de respeitar a autonomia dos doentes e de não os prejudicar. Esta informação pode ajudar os educadores a ensinar os seus alunos sobre a AMM e a informar os decisores políticos sobre o reforço dos apoios aos médicos na ajuda aos doentes com pedidos de AMM de tipo 2.

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* A Dr.ª Ellen Wiebe é Professora Clínica no Departamento de Clínica Familiar da Faculdade de Medicina da Universidade da Colúmbia Britânica em Vancouver. Michaela Kelly é estudante de medicina na Universidade da Colúmbia Britânica.

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