O TÚNEL D. CARLOSI
por Rosalvo Almeida (1)
Boletim de 2024, 4.ª série, n.º 9, p. 207-211
Associação Cultural Amigos do Porto
Associação Cultural Amigos do Porto
Então, ele virou-se para mim e disse-me assim:
– Quem foi o D. Carlosi? Será algum italiano?...
– Estás a brincar. O que está escrito ali em cima é D. Carlos, primeiro.
– Ah! O que também foi o último!
– Esse mesmo. No seu reinado foi aberto o túnel que liga Campanhã a S. Bento.
– E aquela placa que está por baixo? Tem quatro nomes que terão sido “precursores”...
– Quem foi o D. Carlosi? Será algum italiano?...
– Estás a brincar. O que está escrito ali em cima é D. Carlos, primeiro.
– Ah! O que também foi o último!
– Esse mesmo. No seu reinado foi aberto o túnel que liga Campanhã a S. Bento.
– E aquela placa que está por baixo? Tem quatro nomes que terão sido “precursores”...

– É claro que os quatro cidadãos homenageados não são propriamente
“precursores” – não andaram lá a tentar fazer túneis antes deste. A palavra
mais correta talvez seja “promotores” pois foram eles que abriram caminho legal
para a construção desta importante obra pública.(2)– ... e depois refere um centro comercial do Porto... Não entendo.– Não é “um” centro comercial, é “o” Centro Comercial do Porto – nome de
uma associação que congregava comerciantes portuenses e era paralela à mais
conhecida Associação Comercial do Porto. Foi por sua iniciativa que foi
colocada a placa que homenageia as personalidades que estão ligadas às decisões
políticas que permitiram a concretização do projeto de Hippolyte de Baère
(1844-1921), um engenheiro belga que trabalhou nos nascentes caminhos de ferro
do nosso Portugal.
– Sei quem é. Está representado no bronze que está no átrio da Estação
de S. Bento, ladeado por Marques da Silva, o arquiteto, e por Jorge Colaço, o
pintor dos belos azulejos que a revestem.
– Esse mesmo. Mas, ainda sobre o Centro Comercial digo-te que foi fundado em 1887, representava sobretudo os pequenos lojistas e tinha grandes preocupações na vertente do apoio social.(3) Esteve “na primeira linha no socorro às vítimas da grande tragédia marítima de 27 de Fevereiro de 1892 - os pescadores”.(4) Acolheu na sua sede a primeira delegação da Cruz Vermelha no Porto.(5) É, por isso, natural que se tenha juntado às instituições – como as Associações Comercial e Industrial, o Ateneu Comercial – que reclamavam insistentemente a Lisboa pela conclusão do túnel.(6)
– Obrigado por essas informações, mas se calhar não sabes que os sócios do FCP, nos primórdios, se reuniam no Centro Comercial do Porto...(7)
– Sim, há numerosa documentação que prova a profunda inserção da associação na sociedade portuense.
– Gostava então de saber quem são afinal esses tais precursores.
– Três foram ministros das Obras Públicas na época em que se decidiu avançar e se construiu o túnel. O quarto foi vereador da Câmara do Porto.
– É o costume! A história só grava os nomes dos grandes decisores e esquece os verdadeiros obreiros.
– Terás alguma razão, para mais há notícia de que, nas obras, morreram vários trabalhadores. Não esqueças, contudo, que sem decisões políticas não há obras...
– Qual era o vereador?
– José Maria Ferreira era vereador da Câmara cujo presidente era o doutor Aires de Gouveia Osório e tendo o doutor Oliveira Monteiro como vice-presidente.(8) Na sessão de 8 de julho de 1887, ele e outro edil chamado António Júlio Machado propuseram e obtiveram a aprovação do projeto do túnel.(9)
– E os outros?
– Emídio Navarro, Campos Henriques e Carlos de Ávila foram ministros de várias pastas e deputados de vários círculos, embora nem todos tenham tido o mesmo grau de intervenção do decorrer da construção do túnel que se concluiu em 1896.
– Esse mesmo. Mas, ainda sobre o Centro Comercial digo-te que foi fundado em 1887, representava sobretudo os pequenos lojistas e tinha grandes preocupações na vertente do apoio social.(3) Esteve “na primeira linha no socorro às vítimas da grande tragédia marítima de 27 de Fevereiro de 1892 - os pescadores”.(4) Acolheu na sua sede a primeira delegação da Cruz Vermelha no Porto.(5) É, por isso, natural que se tenha juntado às instituições – como as Associações Comercial e Industrial, o Ateneu Comercial – que reclamavam insistentemente a Lisboa pela conclusão do túnel.(6)
– Obrigado por essas informações, mas se calhar não sabes que os sócios do FCP, nos primórdios, se reuniam no Centro Comercial do Porto...(7)
– Sim, há numerosa documentação que prova a profunda inserção da associação na sociedade portuense.
– Gostava então de saber quem são afinal esses tais precursores.
– Três foram ministros das Obras Públicas na época em que se decidiu avançar e se construiu o túnel. O quarto foi vereador da Câmara do Porto.
– É o costume! A história só grava os nomes dos grandes decisores e esquece os verdadeiros obreiros.
– Terás alguma razão, para mais há notícia de que, nas obras, morreram vários trabalhadores. Não esqueças, contudo, que sem decisões políticas não há obras...
– Qual era o vereador?
– José Maria Ferreira era vereador da Câmara cujo presidente era o doutor Aires de Gouveia Osório e tendo o doutor Oliveira Monteiro como vice-presidente.(8) Na sessão de 8 de julho de 1887, ele e outro edil chamado António Júlio Machado propuseram e obtiveram a aprovação do projeto do túnel.(9)
– E os outros?
– Emídio Navarro, Campos Henriques e Carlos de Ávila foram ministros de várias pastas e deputados de vários círculos, embora nem todos tenham tido o mesmo grau de intervenção do decorrer da construção do túnel que se concluiu em 1896.
- Emídio Júlio Navarro (1844-1905) foi quem em 18 de janeiro de 1888 assinou a autorização para obra e depois, em 5 de novembro, a portaria que aprovou o projeto do túnel.(10) Foi considerado um dos ministros das Obras Públicas com “mais rasgadas iniciativas”(11), como por exemplo a instalação da linha telefónica Porto-Lisboa, o Hotel do Buçaco, as obras dos portos de Lisboa, Ponta Delgada e da Horta.(12) Destacou-se também como jornalista e foi fundador do jornal As Novidades, mas as “vilanias” que aí escreveu sobre a cerco sanitário do Porto, por ocasião da epidemia de peste, em 1899, levaram a que fosse riscado de sócio honorário da Associação Comercial do Porto, em decisão unânime da sua Assembleia Geral.(13)- Artur Alberto de Campos Henriques (1853-1922) terá sido o que teve maior ligação ao Porto, cidade onde nasceu. Além de ministro e deputado foi Governador Civil do Porto e dirigente do Clube Portuense. É-lhe atribuída responsabilidade por uma importante reforma do Notariado, enquanto ministro da Justiça, mas sobraçou outras pastas e até presidiu a um governo, temporariamente. Chefiou o Partido Regenerador. Foi Par do Reino e, na República, foi juiz do Supremo.(14,15)- Carlos Orta Lobo de Ávila (1860-1895) ficou mais conhecido por ser um diletante que pertenceu ao grupo dos Vencidos da Vida (com Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão, entre outros intelectuais de nomeada). Participou em múltiplas intrigas políticas – era “maquiavélico” – e, segundo Bernardino Machado, se não tem morrido tão cedo, “teria sido ele o ditador em lugar de João Franco”.(16)
– Fiquei a saber mais do que, de facto, diz essa placa, que quase
ninguém vê quando vai apanhar o comboio. E até fiquei para aqui a pensar em
quais virão a ser os nomes gravados numa futura lápide comemorativa da chegada
ao Porto do comboio de alta velocidade!
– Perguntas bem, mas suspeito que não vai ser afixada nos nossos dias, caro amigo do Porto. Entretanto, vamo-nos manter atentos à nossa cidade.(17) <
– Perguntas bem, mas suspeito que não vai ser afixada nos nossos dias, caro amigo do Porto. Entretanto, vamo-nos manter atentos à nossa cidade.(17) <
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