H. Holden Thorp
Teach philosophy of science
Muito se tem falado sobre a erosão da confiança do público na ciência. Os estudos revelam um declínio modesto nos Estados Unidos em relação ao nível de confiança, mas isso também se verifica noutras instituições. O que se depreende dos estudos é que uma melhor explicação da natureza da ciência – aperfeiçoada à medida que surgem novos dados – teria um efeito positivo na confiança do público. Uma vez que os cientistas estão tão conscientes desta característica, é muitas vezes dado como adquirido que o público também o compreende. Um passo para resolver este problema seria a revisão dos currículos dos cursos de licenciatura e pós-graduação, de modo a ensinar não só teorias e técnicas, mas também a filosofia subjacente à ciência.
Tal como os estudos da
Pew demonstraram,
a confiança nos cientistas e nos médicos nos EUA é mais elevada do que em todas
as outras instituições inquiridas, com exceção das forças armadas. Registou-se
um ligeiro declínio nos últimos 4 anos, mas houve um declínio semelhante
noutras profissões. Em termos absolutos, a confiança nos cientistas é de 73%,
enquanto a confiança na maioria das outras instituições é muito inferior, com
os líderes empresariais a 35% e os políticos a 24%. Apesar deste nível
relativamente elevado de confiança, Lupia et al. identificaram formas de
a aumentar. O estudo revelou que 92% dos inquiridos consideram importante que
os cientistas mostrem que estão “abertos a mudar de opinião com base em novas
provas”, o que é, obviamente, o que devem fazer.
Muitos cientistas
ficariam surpreendidos se descobrissem que esta ideia precisa de ser
reafirmada. A ciência é, afinal, um trabalho em curso que se altera à medida
que novas descobertas provocam a atualização e o refinamento de interpretações anteriores.
A história da ciência é uma narrativa poderosa desta cultura de autocorreção, e
é da essência da ciência tentar fazer descobertas que mudem a forma como os
cientistas pensam. Mas sempre que a ciência se torna importante aos olhos do
público, como acontece com as alterações climáticas e a pandemia, a reavaliação
permanente pode tornar-se um alvo para aqueles que querem fragilizar o
conhecimento científico.
O sociólogo francês
Pierre Bourdieu cunhou o termo “falácia
escolástica“ para descrever a tendência dos académicos para assumirem que
toda a gente pensa nos problemas da mesma forma que os cientistas. Como
Bourdieu salienta, a maioria das pessoas não tem tempo e esforço necessários
para pensar sobre estas questões da mesma forma que aqueles para quem isto é um
trabalho a tempo inteiro. Os académicos não reconhecem frequentemente este
facto e ficam perplexos quando o público não compreende que as interpretações são
continuamente revistas à luz de novos dados, como tem acontecido ao longo da
história. Essas análises são a forma mais fiável de um cientista ser publicado
em revistas de renome e ganhar reconhecimento científico, como quando são
encontradas pegadas que alteram a nossa ideia sobre quando os humanos
estavam presentes nos EUA ou quando se descobre que um medicamento para a
diabetes tem muitas
outras utilizações.
A comunidade científica
tem, de um modo geral, feito um fraco trabalho na explicação ao público de que
a ciência é o que se sabe até à data. Há muitas razões que dificultam este
trabalho. A forma como as descobertas científicas são divulgadas nos meios de
comunicação social, em particular nos meios que não são especializados em
jornalismo científico, é muitas vezes muito simplificada, sem as advertências
que dariam uma imagem mais realista, ao mesmo tempo que tornam as histórias
menos convincentes para alguns leitores. Outro obstáculo é o facto de, devido à
falácia escolástica, os cientistas tenderem a dar por adquirido que as suas
descobertas podem ser atualizadas e esquecerem-se de o explicar ao público. E
quando os cientistas falam uns com os outros, tendem a ser apaixonados pelas
suas ideias e discordâncias. Quando essas conversas são processadas pelo
público, podem ser facilmente mal interpretadas.
Há um livro publicado em 1969, da Portugália Editora, de Anatólio Schwarz, que aborda este tema, "O Código da Vida", e é espantoso como já então era perceptível como muita da prodigiosa engenharia que espanta o mundo, voluntária ou involuntariamente, se inspira nos modelos biológicos ancestrais. A título de exemplo e para aguçar curiosidade o autor diz-nos como a admirável estrutura da Torre Eiffel se baseia na estrutura dos nossos ossos, capaz de suportar cargas superiores ao seu próprio peso... Vale a pena reler, desde o coração, passando pela pele pelo cancro, pelos vírus, pela imunidade, os músculos, a hereditariedade, o autor remata que será no laboratório da Natureza que o homem encontrará a solução para os seus problemas...
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