02 março 2025

"Big data" em PPP?

 

Eur J Hum Genet. 2024 Apr 16;32(6):736–741.
 
Implicações éticas e sociais das parcerias público-privadas no contexto da recolha de dados genómicos/grandes dados de saúde
 
Tradução espontânea do resumo e conclusão do artigo
Ethical and social implications of public–private partnerships in the context ofgenomic/big health data collection
Ruth Horn, Jennifer Merchant; The UK-FR+GENE (Genetics and Ethics Network) Consortium

Resumo

Este artigo relata os resultados de um seminário internacional organizado pela UK-France+ Genomics and Ethics Network em 2022. O seminário centrou-se nas questões éticas e sociais suscitadas pelas parcerias público-privadas no contexto de iniciativas genómicas de grande escala em França, na Alemanha, no Reino Unido e em Israel, ou seja, colaborações em que entidades comerciais têm acesso a dados genómicos detidos publicamente. Apesar de o setor público depender de parcerias com entidades comerciais para explorar todo o potencial dos dados que detém, essas colaborações podem ter um impacto no retorno dos benefícios para o setor público e na confiança do público e, subsequentemente, pôr em causa o contrato social. A primeira parte do presente documento explora a forma como os quatro países examinados respondem aos desafios postos ao contrato social e as salvaguardas que adotam para garantir a confiança do público. A segunda parte apresenta três abordagens para enfrentar os desafios das parcerias público-privadas na utilização de dados secundários. Em conclusão, este documento apresenta um conjunto de requisitos mínimos para estas parcerias no âmbito de sistemas de saúde financiados por fundos públicos e solidários. Entre estes contam-se a necessidade de as parcerias público-privadas (1) contribuírem para o benefício público e minimizarem os danos causados pela utilização de dados detidos pelo Estado; (2) evitarem dar prioridade aos interesses comerciais em detrimento de estruturas de governação sólidas que garantem os benefícios para o público e protegem os titulares, especialmente os grupos marginalizados; (3) evitarem as armadilhas da retórica da solidariedade e serem transparentes quanto aos desafios para devolver os benefícios a “todos”.

               […]

 Conclusão

Com base no debate sobre as abordagens acima descritas, os participantes no seminário chegaram a um consenso sobre três condições que se devem aplicar às parcerias público-privadas na utilização de dados secundários.

  Em primeiro lugar, os participantes notaram que, para maximizar os benefícios para o público da utilização dos dados, o envolvimento em parcerias público-privadas é uma inevitabilidade.

  Em segundo lugar, considerou-se que estas parcerias deveriam contribuir para o benefício público no domínio dos cuidados de saúde, embora os meios para tal – e a sua avaliação – estejam ainda por discutir. Devem ser aplicadas regulamentações diferentes consoante os benefícios ou os prejuízos que a utilização dos dados seja suscetível de produzir. Embora o acesso aos dados deva ser facilitado sempre que a sua utilização proporcione um claro benefício público, deve ser proibida qualquer utilização que represente riscos para os indivíduos ou a comunidade. Esses riscos incluem a obtenção de lucros com o comércio de dados sem o conhecimento do titular, a transferência ilegal de dados para as forças da ordem e/ou outras instituições governamentais, etc. Por conseguinte, nesta fase, a possibilidade de correr riscos para os indivíduos ou para a comunidade no âmbito das parcerias público-privadas foi categoricamente rejeitada.

  Em terceiro lugar, os participantes também concordaram que é necessário evitar os perigos inerentes a estas parcerias, tais como dar prioridade aos interesses comerciais em detrimento de um controlo suficiente e da geração de benefícios públicos. No que diz respeito a esta supervisão, os participantes concluíram que deve existir uma estrutura de governação sólida e fiável que garanta o retorno para o bem público e proteja os titulares, especialmente os grupos marginalizados. Os conflitos de interesses e os interesses comerciais devem ser tornados transparentes e os protocolos de investigação devem definir claramente a forma como os benefícios serão devolvidos ao público e ao sector público (por exemplo, acesso preferencial a bens e serviços desenvolvidos). Embora estas três condições deixem margem para interpretações na sua aplicação prática, constituem um primeiro passo para estabelecer uma confiança pública sustentável na supervisão da utilização dos dados relativos à saúde no interesse de todos.

  Por último, é importante recordar que a noção de solidariedade pode ser muito particularizada (solidariedade nacional, étnica ou religiosa). Por conseguinte, em vez de descartar a opção da solidariedade, é importante compreender por que razão se tornou um ponto de discórdia, especialmente quando se trata de populações sub-representadas. Em especial, os esforços futuros terão de tratar a solidariedade e a partilha de benefícios não como contraditórias mas como interligadas.

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