30 setembro 2023

Questionar com a mente aberta

Questionar com a mente aberta

William Hare

Tradução espontânea do texto Open-minded inquiry
The Foundation for Critical Thinking. 

Resumo - Este é um breve guia para um modelo de questionamento aberto, mediante um apanhado de noções relacionadas. Fazendo especial referência ao contexto educativo, o objetivo é oferecer aos professores uma visão do que significaria para o seu trabalho ser influenciado por este ideal e levar os alunos a uma apreciação mais profunda do questionamento aberto. Das suposições ao fanatismo, o glossário dá conta de uma vasta gama de conceitos desta família de ideias, refletindo uma preocupação e uma ligação ao longo de todo o processo com o próprio conceito central de abertura de espírito. É descoberta uma intrincada rede de relações que revela a riqueza deste ideal; e são identificadas muitas confusões e mal-entendidos que impedem uma apreciação correta da abertura de espírito.

Introdução

Muitas pessoas concordariam com John Dewey e Bertrand Russell em que a abertura de espírito é um dos objetivos fundamentais da educação, sempre ilusório, mas que vale eminentemente a pena perseguir. Para Dewey, é a atitude infantil de admiração e interesse por novas ideias, associada à determinação de ter as suas crenças devidamente fundamentadas; e é de importância vital porque vivemos num mundo caracterizado por mudanças constantes. Para Russell, a abertura de espírito é a virtude que impede que o hábito e o desejo nos tornem incapazes ou relutantes em aceitar a ideia de que as nossas crenças anteriores podem ter de ser revistas ou abandonadas; o seu principal valor consiste em desafiar o fanatismo que advém da convicção de que os nossos pontos de vista são absolutamente certos. Uma revisão de algumas ideias-chave fornece uma noção mais clara das dimensões do ideal de abertura de espírito para todos aqueles que estão determinados a tornar este objetivo central no seu trabalho como professores. O que se segue é um roteiro para o terreno que rodeia a ideia de investigação com abertura de espírito.

Glossário

Pressupostos [Assumptions]: Sempre potencialmente problemáticos quando permanecem invisíveis. Não estando devidamente conscientes das crenças que tomamos como certas, não estamos em posição de considerar o que se pode dizer a favor ou contra elas. O que pressupomos sobre as capacidades dos nossos alunos, sobre o que vale a pena aprender na nossa disciplina, sobre a natureza do conhecimento, sobre a relação professor/aluno, sobre estratégias pedagógicas adequadas, etc., afeta as nossas decisões como professores, mas estas ideias escapam ao nosso escrutínio. O professor de espírito aberto tenta descobrir esses preconceitos [prepossessions] dominantes, como lhes chama Dewey, e submetê-las a um exame crítico. As suposições ocultas deste tipo não devem, obviamente, ser confundidas com suposições que fazemos conscientemente para ver o que acontece se forem consideradas verdadeiras.

Viés [Bias]: Muitas vezes erradamente equiparado a uma simples opinião ou preferência. Uma opinião, no entanto, que resulte de uma análise imparcial das provas mereceria precisamente ser vista como isenta. Do mesmo modo, a preferência por analisar provas de uma forma justa antes de tirar conclusões não é um viés a favor da imparcialidade; é uma determinação para evitar distorções. Uma visão tendenciosa distorce a pergunta porque foram introduzidos fatores (favoritismo, ignorância, omissão, corrupção, lealdade deslocada, ameaças, etc.) que prejudicam uma análise justa. O professor de mente aberta procura evitar vieses no seu ensino, ou compensar os preconceitos que a experiência lhe diz que tem tendência a cometer, exceto quando apresenta deliberadamente uma perspetiva tendenciosa para estimular uma reflexão de mente aberta.

Aceitação crítica [Critical Receptiveness ]: Termo usado por Russell para designar a atitude que faz da abertura às ideias e à experiência uma virtude, enquanto se protege contra a pura indiferença. A abertura de espírito não seria uma virtude intelectual se implicasse uma vontade de aceitar uma ideia independentemente dos seus méritos. É claro que as ideias devem ser devidamente consideradas, a menos que já tenhamos boas razões para acreditar que não têm valor, mas a pessoa de mente aberta está pronta a rejeitar uma ideia que não resiste a uma avaliação crítica. No contexto do ensino, pode haver boas razões para adiar temporariamente o exame crítico, de modo que as ideias em questão sejam devidamente compreendidas e apreciadas antes de serem levantadas dificuldades e objeções, e para assegurar que o respeito e a confiança mútuos permitam que as pessoas aceitem desafios aos seus pontos de vista.

Dogmatismo: Não deve ser considerado como equivalente a ter uma opinião firme, mas sim como uma opinião teimosamente inflexível que perturba o questionamento. Uma pessoa de mente aberta pode ter uma convicção firme, mas estar totalmente preparada para a reconsiderar se começarem a surgir provas contrárias. O dogmático falha neste ponto, considerando a crença como tendo sido estabelecida por uma autoridade que não pode ser contestada. As pessoas podem procurar a muleta do dogma, como diz Dewey, mas um professor de mente aberta desafia essas tendências, assegurando que as afirmações e teorias permanecem abertas à revisão crítica e não são vistas como fixas e definitivas, para além de qualquer possibilidade de reflexão posterior.

Competência [Expertise]: Ninguém tem a capacidade de fazer um juízo independente e crítico sobre todas as ideias, pelo que, nalgumas circunstâncias, todos temos de confiar na opinião de especialistas. No entanto, os peritos não são infalíveis e alguns revelam-se apenas peritos de nome. A pessoa de mente aberta mantém-se atenta a estas possibilidades, de modo a evitar cair numa convicção dogmática ou ser enganada. O conselho de Russell continua a ser pertinente e deve ser aplicado aos presumíveis conhecimentos do professor: Quando os peritos estão de acordo, a opinião contrária não pode ser certa. Quando não estão de acordo, nenhuma opinião é certa. Quando os peritos consideram que as provas são insuficientes, devemos suspender o julgamento.

Falibilidade: A ideia de que as nossas crenças estão sujeitas a erros e podem ser falsificadas [verificadas como falsas]. Se rejeitarmos a certeza absoluta como inatingível, o falibilismo permite-nos ver as nossas crenças como sendo bem fundamentadas e justificadas de acordo com as provas disponíveis e as teorias atuais, mas sempre sujeitas a revisão à luz de mais provas e reflexões. As nossas crenças são provisórias e aproximativas, e o professor de mente aberta tenta transmitir este ponto de vista aos alunos e contrariar qualquer inclinação para pensar que aquilo a que chamamos conhecimento está estabelecido para sempre; mas este falibilismo não implica um ceticismo absoluto, em que qualquer possibilidade de alcançar o conhecimento é simplesmente descartada.

Ingenuidade [Gullibility]: O estado em que estamos tão prontos a acreditar que somos facilmente enganados por afirmações falsas e ideias espúrias. Algo é demasiado bom para ser verdade, mas é considerado como tal. O desejo de ter uma mente aberta é esmagado por um dilúvio de disparates e enganos contra os quais a pessoa não tem defesas críticas suficientes. O pensamento desejoso [wishful thinking], a ganância, a publicidade persuasiva, a ignorância e a pura ingenuidade contribuem para uma situação em que uma pessoa é facilmente aproveitada. Como observa Carl Sagan, uma grande abertura às ideias tem de ser equilibrada por um espírito cético igualmente forte. Estar bem informado, combinado com a capacidade de pensar criticamente, é a principal defesa contra a credulidade.

Humildade: Reconhecer as suas próprias limitações e a sua responsabilidade pelo erro e evitar a arrogância por vezes demonstrada pelos professores. Os professores de mente aberta submetem as suas ideias às reações críticas dos seus alunos e evitam o erro de pensar que qualquer conhecimento superior que possuam, em comparação com o dos alunos, lhes confere infalibilidade ou omnisciência. Reconhecem o risco de poderem vir a cometer um erro. Dewey sublinha, no entanto, com razão, que a humildade não significa que o professor deva pensar que não tem mais conhecimentos do que o aluno e abandonar quaisquer conhecimentos e sabedoria que possa trazer para a situação de ensino.

Doutrinação [Indoctrination]: Não deve ser identificado com todas as formas de ensino, mas sim com o tipo de ensino que tenta assegurar que as crenças adquiridas não serão reexaminadas, ou com métodos pedagógicos que tendem de facto a ter esse resultado. A doutrinação tende a prender o indivíduo a um conjunto de crenças que são vistas como fixas e definitivas; é fundamentalmente inconsistente com o ensino de mente aberta. R. M. Hare sugere um teste útil para professores de mente aberta que se perguntam se o seu próprio ensino pode ou não estar a desviar-se na direção da doutrinação: Até que ponto fica satisfeito quando sabe que os seus alunos estão a começar a questionar as suas ideias?

Juízo de valor [Judgment]: Ao contrário da mera adivinhação, o juízo de valor utiliza informação para apoiar uma afirmação factual provisória que vai além das provas disponíveis. Ao contrário dos pronunciamentos ex cathedra, baseia-se em informações, juntamente com princípios gerais, para determinar o que deve ser feito ou o valor de algo. Os professores de mente aberta têm em mente que os seus juízos assentam em informação limitada ou mesmo em informação errada; que precisamos de estar dispostos a suspender o juízo quando as provas são insuficientes; que o juízo que fazemos pode precisar de ser revisto à luz da experiência e da reflexão subsequentes; e que outros, baseando-se nas mesmas provas e nos mesmos princípios gerais, podem muito bem chegar a conclusões diferentes que precisamos de considerar. A observação de La Rochefoucauld é salutar no que respeita à nossa própria abertura de espírito: Toda a gente encontra falhas na sua memória, mas ninguém encontra falhas no seu julgamento.

Conhecimento [Knowledge]: Stephen Jay Gould fala de certas ideias que são "confirmadas a tal ponto que seria perverso recusar uma aceitação provisória". Esta é uma forma útil de os professores de mente aberta pensarem no conhecimento. Não chega a identificar o conhecimento com a certeza apodítica, mas evita o ceticismo debilitante que está na moda e que prefere falar de "o conhecimento", em vez de conhecimento, com base no facto de ninguém saber realmente nada. Dewey recomenda sabiamente que os professores envolvam os alunos na construção do conhecimento na escola, de modo a abrir-lhes a mente para a perceção de que certas ideias merecem ser consideradas como conhecimento e não como mera opinião ou adivinhação.

Escutar [Listening]: Não deve ser considerado como algo passivo e inquestionável, mas sim como algo intimamente ligado a uma perspetiva de mente aberta. Ouvir bem implica tentar realmente ligar-se às ideias de outra pessoa para as compreender e considerar os seus méritos, aquilo a que Russell chama uma espécie de simpatia hipotética. Implica o risco de os seus pontos de vista se revelarem defeituosos de alguma forma, exigindo revisão ou rejeição numa avaliação de mente aberta, e exige uma certa dose de coragem. Os professores de espírito aberto ouvem o que é dito, como é dito e o que não é dito; e são capazes e estão dispostos a limitar as suas próprias contribuições de modo a dar o devido reconhecimento às vozes dos seus alunos.

Atitude [Manner]: Não é apenas o que dizemos e fazemos como professores que importa no que diz respeito à nossa pretensão de ter uma mente aberta, mas também a atmosfera que criamos, o tom que estabelecemos, o nosso comportamento e linguagem corporal e as atitudes que transmitimos. Tudo isto pode tornar muito mais claro para os alunos do que qualquer declaração verbal que apele a um envolvimento genuíno com as ideias. Dewey fala da "aprendizagem colateral" que ocorre nas salas de aula, especialmente a formação de atitudes por parte dos alunos, e uma grande influência aqui é a forma como os professores fazem o seu trabalho.

Neutralidade: Não deve ser vista como um princípio pedagógico, mas antes como uma estratégia pedagógica útil, que dá aos alunos a oportunidade de desenvolverem as suas próprias opiniões antes de saberem quais são as opiniões do professor – se é que o professor decide revelar as suas opiniões. A neutralidade, no sentido de um professor que tenta nunca revelar os seus pontos de vista, não é uma condição necessária para ter um espírito aberto. O modo de agir do professor pode revelar que os seus pontos de vista declarados estão abertos à discussão e não estão a ser apresentados de forma dogmática. A confusão sobre a neutralidade do professor resulta frequentemente do facto de se tirar uma conclusão geral sobre a abertura de espírito a partir do facto de que "manter uma mente aberta" sobre uma questão significa tipicamente não ter ainda tomado uma decisão e, portanto, ser neutro.

Abertura de espírito [Open-mindedness]: O conceito central desta família de ideias. O espírito aberto é uma virtude intelectual que envolve a vontade de ter em conta provas e argumentos relevantes na formação ou revisão das nossas crenças e valores, especialmente quando há alguma razão para resistir a essas provas e argumentos, com o objetivo de chegar a conclusões verdadeiras e defensáveis. Significa estar criticamente recetivo a possibilidades alternativas, estar disposto a pensar de novo apesar de ter formado uma opinião, e tentar sinceramente evitar as condições e compensar os fatores que constrangem e distorcem as nossas reflexões. A atitude de abertura de espírito está integrada na ideia socrática de seguir o argumento até onde ele nos leva e é uma virtude fundamental da investigação.

Propaganda: Uma apresentação unilateral e tendenciosa de uma questão, que recorre a apelos emocionais e a um vasto leque de artifícios retóricos para se sobrepor a uma avaliação crítica e garantir a convicção. O propagandista encontrou a verdade e não tem interesse em encorajar os outros a envolverem-se num questionamento genuíno. Russell distingue o educador do propagandista no sentido em que o primeiro se preocupa com os alunos por si próprio, não os vendo como simples potenciais soldados a lutar por uma causa. O desafio que se apresenta aos professores de mente aberta é o de dar aos alunos as competências necessárias para reconhecerem e lidarem com a propaganda e para se absterem de fazer propaganda, mesmo que uma determinada causa pareça suficientemente importante para a justificar.

Perguntas: Algumas perguntas desencorajam o questionamento crítico ao procurarem apenas respostas consideradas corretas; outras criam um duplo vínculo ao incorporarem um pressuposto duvidoso; outras ainda restringem arbitrariamente o âmbito das suas questões. Tudo isto é contrário à abertura de espírito. Envolvermo-nos numa pergunta de uma forma aberta implica considerar o maior número possível de respostas ou soluções e mostrar o tipo de curiosidade que põe o desejo de descobrir antes do interesse pessoal e da conveniência. Porque as boas perguntas servem para abrir as nossas mentes, Russell observa que a filosofia deve ser estudada por causa das próprias perguntas; e o comentário de Whitehead de que a "pergunta parva" é muitas vezes o primeiro indício de um desenvolvimento totalmente novo é especialmente relevante no contexto do ensino com abertura de espírito.

Relativismo: Porque está muitas vezes associado a uma atitude de respeito e tolerância em relação às diferenças culturais no que diz respeito ao que é moralmente certo e errado, e também a uma apreciação sensível do pluralismo no que diz respeito a métodos, teorias, perspetivas e interpretações no questionamento, o relativismo parece, à primeira vista, não só compatível com a abertura de espírito, mas também central para ela. Se, no entanto, o relativismo significa que todas as perspetivas morais são igualmente válidas, ou que todas as afirmações de conhecimento são igualmente verdadeiras (uma vez que o que é verdadeiro é simplesmente verdadeiro para alguém ou para algum grupo), então o ideal do estudo com espírito aberto tem de desaparecer. Se nenhum ponto de vista é concebivelmente melhor do que outro, porquê considerar pontos de vista alternativos?

Surpresa: A disponibilidade para a surpresa é a forma de Robert Alter captar um aspeto vital da abertura de espírito. Significa não estar tão preso a uma determinada forma de pensar que não consiga apreciar ou mesmo reparar numa possibilidade nova e surpreendente. Significa estar pronto para acolher um desenvolvimento ou interpretação inesperados, talvez surpreendentes; significa estar preparado para reconhecer que uma ideia contraintuitiva é verdadeira. Os professores de mente aberta não só estão prontos, como também se sentem felizes por serem surpreendidos pelos seus alunos, reconhecendo, tal como Dewey, que nem mesmo o professor mais experiente pode sempre antecipar a forma como as coisas vão afetar os seus alunos.

Tolerância: Nem sempre é considerada uma atitude muito digna, em parte porque parece sugerir que se deve tolerar algo de má vontade em vez de mostrar o devido respeito; e em parte porque é evidente que há muitas coisas que não devemos tolerar. No entanto, a tolerância razoável é importante, uma vez que é muitas vezes desejável permitir ou admitir aquilo que preferíamos que não acontecesse. Um problema com as políticas de tolerância zero é simplesmente o facto de a responsabilidade estrita impedir o exercício de uma tomada de decisão com espírito aberto em casos específicos. A tolerância não implica abertura de espírito, uma vez que se pode nunca considerar seriamente aquilo que se tolera; mas a tolerância na sociedade cria a exposição a um vasto leque de crenças e práticas que podem revelar-se um estímulo para uma investigação aberta.

Incerteza: Assuntos profundamente controversos, desacordo entre peritos, informação insuficiente e contraditória, falta de confiança em instituições outrora admiradas e problemas e crises emergentes, tudo isto sublinha a ideia de Dewey de que o mundo em que vivemos não está resolvido e acabado. A ausência de certezas exige uma tolerância à ambiguidade – uma capacidade e uma vontade de pensar criticamente e de ponderar alternativas em situações em que as decisões são problemáticas – e, nestas circunstâncias, a abertura de espírito no ensino tem o grande valor de sublinhar a natureza provisória e experimental das conclusões, enquanto nos compromete a utilizar da melhor forma todas as provas e argumentos que conseguirmos reunir.

Veracidade: A virtude da veracidade implica o compromisso de basear os nossos pontos de vista numa avaliação honesta das provas e de ajustar o grau de convicção que temos em função do peso dessas provas. Nas palavras de Peirce, envolve um questionamento da verdade pela verdade, sem qualquer interesse e com uma paixão pelo aprender. Beneficia de uma vontade sincera de ter em conta tudo o que é relevante para chegar a uma conclusão verdadeira, mas é derrotado por segundas intenções, desejos, julgamentos precipitados, resistência às ideias e convicções a priori.

Fascínio [Wonder]: Sugere curiosidade insaciável, questionamento interminável, especulação imaginativa, abertura a novas experiências e a sensação de que nunca esgotaremos a nossa compreensão e apreciação. Amaldiçoado seja o estúpido que destrói o espanto, diz Whitehead, mas a perplexidade e o fascínio pelas ideias são muitas vezes esmagados por uma ênfase excessiva na precisão e no pormenor. Uma pessoa intrigada e maravilhada, diz Aristóteles, julga-se a si própria ignorante, e uma consciência aguda da sua própria falta de conhecimento é muitas vezes um estímulo para uma exploração aberta das possibilidades.

Xenofobia: Um medo ou ódio profundamente enraizado de outras culturas ou raças, com o resultado de que o preconceito, a ignorância, o desprezo e um sentimento de superioridade impedem as pessoas de perceber e apreciar o que é valioso num modo de vida diferente ou de considerar o que podem aprender com outras tradições. A pessoa de mente aberta, pelo contrário, reconhece o enorme valor do pluralismo e da diversidade, e vê essa exposição como potencialmente enriquecedora e não ameaçadora. O desafio para o professor de mente aberta é derrubar as barreiras criadas pelo fanatismo e pelo provincianismo estreito.

Tu és obstinado, ele é teimoso: O orador, escusado será dizer, apenas tem opiniões firmes. Esta é a forma memorável de Russell dizer que é extremamente difícil reconhecer as nossas próprias tendências para o fechamento. Consideramo-nos eminentemente razoáveis e os nossos pontos de vista abertos à discussão, embora possa ser perfeitamente claro para os outros que estamos apenas a tentar ouvir seriamente um ponto de vista oposto. Russell chama a isto "boa aparência", em vez de abertura de espírito genuína.

Fanatismo [Zealotry]: O entusiasmo, a paixão e o empenhamento são qualidades poderosas que se manifestam claramente na maneira de ser do professor, e os alunos acabam por ser apanhados pelo mesmo entusiasmo. Hume lembra-nos, no entanto, que nenhuma qualidade é em absoluto culpável ou louvável, e o zelo louvável pode rapidamente passar a um zelo indesejável. O zelota tem um empenhamento fanático tão inquestionavelmente importante que se sobrepõe ao empenhamento fundamental na promoção da independência e da autonomia dos alunos. No contexto da educação, o fanatismo traduz-se em propaganda e doutrinação. Christopher Hitchens dá-nos um bom conselho quando sugere que "aprendamos a reconhecer e a evitar os sintomas do fanático e da pessoa que tem sempre razão".

Comentário final - Não é realmente necessária uma conclusão geral. Esta seleção é, em si mesma, a conclusão, mostrando uma rede de ideias que se cruzam e voltam a cruzar-se, por vezes com voltas e reviravoltas inesperadas. Para valorizar uma parte específica de um terreno, é necessário explorar as ligações com outras áreas e ver cada uma delas a partir de uma variedade de pontos de vista, para que se chegue gradualmente a uma noção do todo. No ensino, a atitude de abertura de espírito corre o risco de se perder de vista se pensarmos que a informação e as competências são os nossos principais objetivos, ou se, enquanto professores, permitirmos que a nossa experiência e autoridade fechem as ideias dos nossos alunos. Um roteiro que mostre a riqueza e a textura do ideal da curiosidade aberta pode servir para nos recordar o seu valor fundamental.