Estará o prestígio social dos médicos em queda? Eis uma pergunta a que é difícil dar uma resposta baseada em provas. Pode talvez haver uma perceção geral de que isso acontece, eventualmente no contexto do gracejo, tantas vezes ouvido, segundo o qual, “no que diz respeito ao respeito, já não há respeito nenhum”…
Uma das formas de demonstrar a importância social de alguém é perpetuar a sua memória numa escultura pública ou, mais simplesmente, numa placa toponímica. Dar um nome a um arruamento na terra onde essa pessoa nasceu ou onde se notabilizou tem sido, ao longo dos tempos, utilizado pelas localidades em Portugal, como noutros países.
Lançámo-nos à procura de nomes de médicos nas ruas, avenidas, praças e travessas portuguesas e ficamos com a impressão, não contabilizada, de que a nossa profissão rivaliza, na toponímia, com os padres e os santos. A nossa amostra resulta de uma recolha de nomes de médicos feita, entre outras fontes, nos excelentes blogues “Ruas com história”, da autoria de Manuel C. Lopes, e “Toponímia de Lisboa”, do Departamento de Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, mais a consulta do Código Postal.
Muitos outros haverá certamente, mas para os efeitos desta reflexão ficámo-nos por um conjunto de 518 nomes de médicos (só 13 são do sexo feminino!) em 281 municípios do continente e ilhas – ver lista em Toponímica médica).
Tomando o número de nascidos por décadas parece haver um decréscimo nos tempos mais recentes, mesmo tendo em conta que há prestigiados médicos nascidos depois de 1923 que estão entre nós (é sabido que é raro atribuir-se o nome a um arruamento em vida do homenageado) e que os casos muito antigos tendem a ser esquecidos e por vezes substituídos. Esta distribuição peca, naturalmente, por englobar períodos históricos diversos (Monarquia, República, Estado Novo), mas se tivéssemos escolhido o ano de falecimento dos topónimos o problema manter-se-ia. Por isso, juntámos os nascidos em três grupos de 50 anos – as duas metades do século XIX e a primeira do século XX –, e encontrámos uma quase igualdade (42-48%) nos dois últimos grupos, o que parece desmentir o declínio – ver gráficos.