Promessas e Problemas
Desde o seu
início a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) tem dado que pensar a filósofos e bioeticistas
e o Center for Practical Bioethics tem uma longa história de batalhas
sob este tema.
Em 1966, a National
Academy of Sciences divulgou que a massagem cardíaca fechada e a RCP deviam
ser tratamentos usuais em doentes hospitalizados. Antes, a RCP era uma proposta
“feita às cegas”. Durante os anos 70 e 80, o uso de RCP tornou-se mais
frequente nos hospitais e expandiu-se com a associação da desfibrilhação. Em
1984, o ano em que o Center foi criado, o Johns Hopkins Hospital passou
a ser o primeiro a integrar os desfibrilhadores externos automáticos nos
procedimentos de ressuscitação.
A RCP foi
inicialmente destinada a quem sofria paragens cardiovasculares presenciadas
(i.e., quem morria de ataque cardíaco frente a alguém com conhecimentos de
RCP). No final dos anos 80 e início dos anos 90, foi aplicada a quem quer que
morresse nos hospitais – e os problemas surgiram. Um autor chamou-lhe uma
“cedência médica”. Outro disse: “Regressar da morte tornou-se numa obsessão da
medicina”. Outro ainda referiu-se à morte como um “problema recorrente”.
Decisão de
Não Ressuscitar
O Center for PracticalBioethics e outros pensaram que tratar do tema das decisões de não
ressuscitar (DNR) protegeria os doentes dos danos resultantes do seu uso
inadequado quando tivessem poucas possibilidades de beneficiar da RCP. De um
modo geral, entre esses danos estão costelas partidas, queimaduras da pele,
equimoses extensas e ficar entre a vida e a morte com pouca “qualidade de
vida”. Ron Stevens, MD, então diretor de Oncologia na University of Kansas,
disse que a RCP era “a mais desagradável intervenção feita em medicina, esteticamente
falando”. Um outro médico, um “quase fundador” do Center for Practical
Bioethics, Bill Bartholome, MD, escreveu um artigo para os Annals of
Internal Medicine em 1988 onde dizia: “O que precisamos é de uma nova
perspetiva, um novo modo de pensar as Decisões de Não Ressuscitar (DNR).
Precisamos de perceber que, na maioria das instituições de cuidados continuados
e lares de idosos, os únicos supostamente bons candidatos a receber RCP são
afinal os seus profissionais e as suas visitas”.
Na maior parte
das vezes, as DNR eram respeitadas nos hospitais mas, quando o Medicare e
os supervisores das entidades reguladoras consideraram a ressuscitação como uma
medida de qualidade, os médicos passaram a hesitar em passar a escrito essas
decisões, especialmente em doentes frágeis e idosos incapazes, e/ou quando as
famílias pediam para “fazer tudo o que for possível”. E quando os doentes que
tiveram uma DNR saíam do hospital não havia maneira de que uma DNR fosse
cumprida em suas casas.
Novas
Orientação e Estratégias
O Center
for Practical Bioethics e outros reconheceram que a prática quase universal
de tentar ressuscitar quem quer que morra num hospital era eticamente
imperfeita e que não bastava, para proteger os doentes, questionar a RCP e a
sua eficácia em revistas de referência e em congressos profissionais.
Em 1988, o Kansas
City Regional Hospital Ethics Committee Consortium convocado pelo Center
acompanhou a execução de um projeto comunitário em Hennepin County
Minnesota que criou um modo de estabelecer DNR fora do ambiente hospitalar.
Com os nossos prestadores de serviços médicos de emergência, hospitais locais e
lares de idosos, Kansas City tornou-se a segunda comunidade no país em
que os doentes nos seus domicílios podiam ter DNR que pudessem ser respeitadas.
A iniciativa de Kansas City foi apresentada nos Annals of Emergency
Medicine.
O Consortium
também criou normas de orientação para DNR em Lares de Idosos e
sobre Respeitar DNR Durante Procedimentos Invasivos. O número da primavera de
1998 do Bioethics Forum contém estas normas de orientação do Consortium.
Na sequência desse trabalho, a Joint Commission (então JCAHO)
solicitou ajuda ao Center para que elaborasse os seus critérios.
POLST e Mais Além
Nesse mesmo
ano o Center soube do POLST (Indicações Médicas para Tratamentos de
Suporte de Vida) no Oregon, que resultara de tratamentos
indesejáveis e potencialmente lesivos de âmbito estadual. Em 1999, o Center publicou
um breve relatório sobre a iniciativa do Oregon no Número 3 da State
Initiatives in End-of-Life Care. A execução em Kansas City de um
projeto do tipo POLST foi muito difícil visto que “pisava as linhas” da
nossa comunidade. Hoje, o Center, de acordo com uma frente alargada de
instituições prestadoras de cuidados de saúde, dirige um projeto semelhante
chamado Indicações Médicas Transferíveis para Preferências dos Doentes
(TPOPP). É a primeira iniciativa bi-estadual do “paradigma POLST” no
país. Os materiais e recursos educacionais do TPOPP podem ser
encontrados em practicalbioethics.org.
O trabalho do Center
nesta área desde há muito inclui o convite a académicos de todo o país para
falarem sobre as suas investigações e escreverem sobre o assunto. Em 12 de
agosto de 2015, pelas 19h00, continuaremos a aprender com David Casarett, MD,
presente no 21st Annual Rosemary Flanigan Lecture no St. Joseph
Health Center em Kansas City, Missouri. O Dr. Casarett é professor
titular na University of Pennsylvania Parelman School of Medicine e
autor de Shocked: Adventures in Reviving the Recently Dead, uma história
completa da Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP).