Instar os profissionais
de saúde a protegerem os doentes dos abusos da Comunicação Social é urgente.
“A Entidade Reguladora para a Comunicação Social, em face do contexto de pandemia de covid-19, saúda todos os profissionais da Comunicação Social (…) que estão na linhada frente em defesa do direito à informação e da saúde pública. A ERC congratula-se com o facto de se ter verificado uma postura de grande responsabilidade e um contributo de enorme valor social por parte da Comunicação Social portuguesa, na divulgação de informação premente sobre as medidas de combate à covid-19. (…) A ERC volta a alertar para os princípios (…) 2. Proteger a identidade e a reserva da intimidade da vida privada dos doentes e respetivas famílias, o respeito pela sua dignidade mesmo post mortem, ou de pessoas suspeitas de terem contraído o vírus, abstendo-se de divulgar imagens e declarações de pessoas em estado de vulnerabilidade física, psicológica e emocional.” (Comunicado da ERC, 08/04/2020)
Todos
sabemos da “atração fatal” que dois minutos de tempo de antena exercem sobre o
comum dos mortais. Quando um doente faz declarações às televisões nunca há
referência a que foram recolhidas com consentimento (informado sobre as suas
consequências). Mas, mesmo tacitamente consentidas, é lícito recorrer a declarações
de pessoas doentes? Não, o simples facto de as recolher é, per se, um abuso de posição.
Muitas vezes estes depoimentos não passam da exploração de emoções que não se destinam a informar mas a ganhar audiências junto de pessoas fragilizadas e sensibilizadas pela divulgação de desgraças alheias.
Impedir isso não é instituir uma “lei da rolha” nem é uma ofensa à liberdade de expressão. É uma medida higiénica que talvez coubesse nas especificidades de um decreto de estado de emergência, para não dizer que deveria ser permanente. Certo é que não se espera que a maioria dos profissionais e dos proprietários dos meios de Comunicação Social facilmente compreenda e aceite tal limitação.
Seria,
assim, importante ouvir as entidades reguladoras de médicos e
enfermeiros (ordens) e os órgãos consultivos do Estado pronunciarem-se, alto e
bom som, sobre a sustentação ética de tais práticas. Instar os profissionais de saúde a protegerem os doentes
destes abusos é urgente. Naturalmente, deveriam ter igual cuidado com as
declarações vãs, sequiosas de protagonismo, dos seus próprios dirigentes, mas
isso é pedir demais.