Convidado a redigir um texto comemorativo dos 25 anos do SMN, refleti sobre a forma que havia de dar ao solicitado e não encontrei maneira de evitar uma abordagem algo autobiográfica.
Na verdade, se há coisa que me envaideça é ter sido um
dos fundadores do Sindicato que, na década de 80 do século passado (1),
entenderam que os médicos necessitavam de se organizar para defesa dos seus
interesses enquanto trabalhadores por conta de outrem.
Orgulho-me em especial de, depois de ter sido membro
da comissão instaladora, da direção provisória, da primeira direção eleita e
de ter saído de cena, ter sido “contemplado” com o número 1 na recontagem dos
sócios. (atualização: desfiliei-me em 2023)
Ao longo da minha vida profissional, cujo percurso tem
sido algo atípico, envolvi-me em diversos movimentos associativos, onde penso
poder encontrar um fio condutor a que poderia chamar uma espécie de frentismo
unitário.
Foi o caso, por exemplo, da Liga da Epilepsia onde
exerci cargos diretivos, conseguindo juntar interesses de vários técnicos de
saúde (neurologistas, psiquiatras, pediatras, psicólogos, neurofisiografistas),
de doentes e dos seus familiares.
Foi o caso de uma participação da direção da Ordem do
Médicos, sob o signo da “Casa de Todos os Médicos” (2), que reuniu
vontades de diferentes organizações médicas.
Foi, faz agora 25 anos, o caso da criação do Sindicato
dependente dos Médicos que, desde sempre, asseverou que os interesses que defendia
eram compatíveis com os interesses das populações.
Recordo a facilidade com que discutíamos os problemas
e as atuações sem curarmos de saber a que partidos políticos pertenciam os
interlocutores.
Recordo o empenhamento construtivo que a FNAM teve na
edificação do SNS como nós hoje o conhecemos.
Recordo também como era difícil para alguns acreditarem
que gente como nós se envolvia nestas tarefas por vontade e convicções próprias
e não como mandaretes partidários ou serventuários ocos de controleiros reais
ou imaginários.
Daí que, mesmo tendo deixado de ter filiação
partidária e cético das virtualidades da Ordem enquanto defensora do exercício
da Medicina, mesmo tendo deixado de exercer atividades clínicas, me mantenha associado
do SMN apesar das divergências frequentes com o seu discurso.
É por isso que me sinto à vontade para usar este
pretexto para retomar uma opinião que tornei pública em 2002 sobre a greve dos
médicos.
Continuo a considerar que o movimento sindical médico
ganhava em declarar, com pompa e circunstância, que suspendia o recurso à greve
como meio de fazer valer os seus pontos de vista em negociações com os governos.
Defendi e defendo que uma tal declaração,
preferentemente assumida fora de ciclo negocial, teria o apoio de muitos que
não aceitam que seja o doente a pagar um conflito de interesses que o
ultrapassa.
Acredito que um sindicato de novo rosto poderia, nesta
posição ética, encontrar meios originais de trazer os utentes do SNS para aliados
do seu campo, na luta contra os poderes, quando isso lhes fosse claramente demonstrado.
Penso que, aproveitando as comemorações do passado
para delas extrair lições de futuro, importa encontrar novas caras, novas
palavras e novas formas de efetivamente defender os médicos.
Quero crer, tal como acredito que os interesses dos
médicos são compatíveis com os interesses das populações, que os associados hão
de alinhar com dirigentes que sejam tanto capazes de criticar um Ministro como
de aplaudir medidas de interesse público.
Nos dirigentes do Sindicato dos Médicos do Norte vejo
que se mantém um real espírito de abertura e de busca de unidade e, ao agradecer
terem-me convidado a participar no Congresso de Abril de 2007 (como moderador
de um debate sobre os direitos dos utentes), desejo-lhes êxitos para atraírem, cada
vez mais, novos associados e novos dirigentes.
O passado deste organismo vivo merece um futuro de que
nos possamos orgulhar.
1 VI Governo Constitucional (1980-81): Sá Carneiro e Morais Leitão/Costa e Sousa. VII Governo (1981): Francisco Balsemão e Carlos Macedo/Paulo Mendo. VIII Governo (1981-83): Francisco Balsemão e Luís Barbosa/Paulo Mendo. IX Governo (1983-85): Mário Soares e Maldonado Gonelha. X Governo (1985-87): Cavaco Silva e Leonor Beleza/Baptista Pereira. XI Governo (1987-91): Cavaco Silva e Leonor Beleza/Faria Almeida/Costa Freire/Albino Aroso/Dias Alves e Arlindo Carvalho/Albino Aroso/Jorge Pires.
2 Bastonário Santana Maia (1993-95) e Bastonário Carlos Ribeiro (1996-98)