1. O SNS tem sido “acusado” de ser apenas um
Serviço Nacional da Doença já que os cidadãos apenas o utilizam quando estão
com problemas de saúde, ou seja, doentes. Carece, assim, de importância
a componente de promoção da saúde, de prevenção da doença.
2. De qualquer forma, hoje, os cidadãos estão
cada vez mais cientes dos seus deveres e direitos e, portanto, exercem cada vez
mais a cidadania – a participação nos destinos da sua cidade, seja porque
influenciam diretamente a escolha dos dirigentes (direito de voto), seja porque
reclamam quando as coisas lhes parecem mal e assim julgam induzir correções,
seja ainda porque cada vez mais usufruem dos serviços que lhes são destinados.
3. No SNS coexistem, como em qualquer outro
serviço, prestadores e utilizadores. Daí que os cidadãos sejam, todos,
potenciais utentes. Enquanto utentes os cidadãos utilizam os serviços
que lhes são proporcionados mas isso pressupõe alguma passividade por parte dos
serviços.
4. Se, por outro lado, optarmos por classificar
os cidadãos como clientes, pode entender-se que são os serviços que
procuram ou chamam os utilizadores. Se fazem por isso, têm mais clientes. Mas a
verdade é que os serviços querem é ter menos utilizadores. Os prestadores
sentem que quanto mais utilizadores há mais difícil é a prestação. Por isso não
procuram clientes.
5. Além disso, sabemos que uma organização com
clientes é, supõe-se, uma organização que visa o lucro. Considerar que os
utilizadores são clientes tem, consequentemente, uma perigosa conotação
economicista.
6. Concluo, assim, que neste sistema, que funciona melhor do que o pintam, os utilizadores não devem ser meros utentes, nem pretensos clientes. Tão pouco devem ser doentes, ainda que o sejam. Na minha perspetiva, os utilizadores são afinal cidadãos e como tal devem ser tidos e respeitados.